O aborto é tema bastante complexo e pode ser avaliado sob
diversos pontos de vista. Nossa proposta aqui é refletir de acordo com a visão
espírita e como o espiritismo se apoia no ensino dos Espíritos superiores, na
observação dos fatos, nas constatações científicas e nos diálogos filosóficos,
o espírita como o não espírita pode encontrar aqui algum proveito.
A abordagem do tema em qualquer perspectiva passa, inicialmente,
por um questionamento: “onde começa a vida?”. Em termos gerais a vida é
caracterizada por princípios orgânicos: “a vida das árvores, das plantas, dos
animais e etc”, mas do ponto de vista espírita que a vida orgânica é efeito e
não causa e como efeito não serve de princípio para tratarmos de sua origem,
concluindo dai que a origem, a causa da vida é espiritual.
Dois dos princípios do espiritismo, a imortalidade da
alma (L.E. Q. 23 e 76) e a reencarnação (L.E. Q. 166), nos
ensinam que continuamos vivos depois que o corpo morre e que nascemos outras vezes,
com outros corpos, outros nomes e construindo novas personalidades. Daí podemos
deduzir que o homem já existia antes de nascer e que traz consigo
características inatas que vão se juntar à educação e a princípios genéticos
para a formação da nova personalidade. Tudo isso existe com o objetivo de
educar do Espírito (ou alma) imortal, que foi criada por Deus simples e
ignorante (L.E. Q. 115). Estas informações são cruciais para iniciarmos um
diálogo sobre o aborto dentro da óptica espírita.
Consequência natural, deduzimos que os homens que habitam os
corpos de hoje já existiam antes de nascerem e que vivem atualmente o resultado
dos próprios atos do passado, princípio que explica situações como das crianças
com doenças de nascença ou problemas que surgem de maneira independente que
qualquer previdência humana e que afetam profundamente nosso aparente e atual
bem estar (L.E. Q. 222). Este princípio, o da preexistência da alma, é
divergente da maioria das demais religiões.
A visão da igreja católica hoje é que a Alma humana é criada por
Deus no momento da concepção (WIKIPÉDIA). No caso das doutrinas protestantes a
crença é semelhante, não sendo possível, no entanto, especificar um consenso
para o assunto, justamente porque existem milhares de denominações diferentes.
O que coincide na maioria é a mesma visão católica, da criação da alma no
momento da concepção (citar fonte).
Em se tratando de definição clássica, o aborto é a interrupção
da gravidez. Esta interrupção pode ser dar por dois motivos:
Aborto Espontâneo ocorre quando a gravidez é interrompida por
complicações decorrentes de diversos problemas desde a não nidação da celular
ovo na parede do útero até as mais diversas anomalias cromossomáticas que
representam cerca de 50% dos casos deste tipo de aborto¹. A medicina considera
aborto até 22ª semana gestacional¹. A partir desta data, quando o feto morre
antes de nascer ou durante o parto ele é considerado um Natimorto;
Aborto Provocado – Também conhecido como aborto induzido ocorre
quando a gravidez é interrompida por um ato deliberado e intencional de um ser
humano. (citar fonte)
Para a maioria das religiões este aborto provocado é considerado
contrário às leis de Deus e, por tanto, um crime. Seja diante da crença da
criação da alma na concepção (maioria das religiões) ou da crença na
preexistência da alma (espiritismo) o aborto significa a interrupção da vida e
por isso mesmo um crime semelhante ao assassinato.
Segundo “O Livro dos Espíritos” “(...) desde o momento da
concepção, o Espírito designado para tomar determinado corpo a ele se liga por
um laço fluídico, que se vai encurtando cada vez mais, até que a criança vem à
luz.” (L.E. Q. 351).
Na óptica espírita a definição que corresponde ao aborto é a
mesma utilizada pela medicina clássica, mas com o agravante de saber que ele
representa a interrupção do processo de reencarnação tolhendo a nova
oportunidade de renascer que Deus está oferecendo a um Espírito em evolução.
A questão capital deste assunto é se o aborto provocado pode ser
justificado em alguma condição e, se sim, em quais condições isto se dá!?
Para o espiritismo a única situação em que ele é considerado
aceitável é no caso em que a gravidez coloca em risco a vida da gestante, já
que preservando a vida da mãe haverá a possibilidade de nova gravidez, para o
mesmo Espírito, e em melhores condições. “O Livro dos Espíritos” nos ensina que
“(...)é preferível sacrificar o ser que não existe a sacrificar o que existe”.
Para melhor compreender o tema segue abaixo a transcrição das
questões 357, 358 e 359 de “O Livro dos Espíritos”, sugerindo ainda a leitura
completa do assunto que vai da questão 344 até a 360.
357. Quais são para o Espírito, as consequências do aborto?
- Uma existência nula e a recomeçar.
358. O aborto provocado é um crime, qualquer que seja a época da
concepção?
- Há sempre crime quando se transgride a lei de Deus. A mãe ou
qualquer pessoa cometerá sempre um crime ao tirar a vida à criança antes do seu
nascimento, porque isso é impedir a alma de passar pelas provas de que o corpo
deveria ser instrumento.
359. No caso em que a vida da mãe estaria em perigo pelo
nascimento da criança, há crime em sacrificar a criança para salvar a mãe?
- É preferível sacrificar o ser que não existe a sacrificar o
que já existe.
Voltando ao questionamento inicial "onde começa a via"
e considerando os ensinos espíritas, a questão sai do campo meramente físico,
resultando em todo um problema filosófico/metafísico que inúmeros homens de
grande saber não puderam ainda resolver e não seremos nós a solucioná-lo,
cabendo apenas frisar que quando a gestação começa, começa também a vida de um
novo indivíduo que já existia espiritualmente. Como as legislações não são
construídas com base em prepostos
espirituais, o que por si só já levaria o aborto à condição de crime de
assassinato, os legisladores consideram fatores sócio-culturais e neste caso,
postulados científicos. O problema então fica sob a custódia da opinião geral
que obedece ao princípio da democracia representativa e ao posicionamento
científico vigente.
Outra questão mais prática e que cabe nas discussões legais é
saber quando podemos considerar o feto como um ser humano propriamente
dito. Esta definição seria um ponto de referência científico para apoiar
uma parte (a questão científica) sobre a legalidade do aborto, mas não é a
única, pois como dissemos, a democracia representativa exige por princípio que
os representantes (neste caso o legislativo) zelem pelo desejo de seus
representados (o povo). Mas em nenhum dos dois casos há consenso geral.
A opinião de grande parte dos cientistas no campo da biologia
considera que até a 12ª semana de gestação, com um sistema nervoso muito
primitivo, o feto não carrega a possibilidade de atividade mental consciente
(VARELLA). Contra este argumento poderíamos mencionar os milhares de casos de
traumas psicológicos que, em terapias de regressão de memória, demonstraram ter
sua origem dentro deste período que vai da concepção até à 12ª semana de
gestação, por ocorrências que abalaram a mãe. Como é possível definir se o feto
em determinado período da gestação é ou não é uma pessoa humana? Quais os
critérios para definir até quando podemos tirar a sua vida e a partir que quando
não podemos mais?
O Dr. Drauzio Varella, em seu site oficial, apresenta uma
argumentação do ponto de vista biológico que para os que avaliam sob esta
óptica "abortamentos praticados até os três meses de gravidez
deveriam ser autorizados, pela mesma razão que as leis permitem a retirada do
coração de um doador acidentado cujo cérebro se tornou incapaz de recuperar a
consciência." (http://drauziovarella.com.br/mulher-2/gravidez/a-questao-do-aborto/). Este
argumento é tão frágil que deve causar vergonha intelectual em quem o utiliza,
pois compara o ser que está a caminho eminente da "morte" (para não
dizer que já morreu) com o que está se preparando para a "vida".
De fato não encontramos muito consenso científico sobre quando
podemos considerar o feto um ser humano e citamos como opinião divergente da
oferecida pelo Dr. Varella, os relatos do Dr. Bernard N. Nathanso, médico
obstetra e ginecologista no vídeo "THE SILENT SCREAM” (O
Grito Silencioso) do que, inclusive nos mostra uma reflexão abaladora sobre os
verdadeiros interesses que levam alguns "cientistas" a defenderem a
legalização do aborto. Não vamos discorres sobre o vídeo, por considerar que
todos devam assisti-lo para tirar as próprias conclusões, mencionando apenas
que ele foi responsável direto por mais de 60 mil abortos provocados na clínica
que dirigia. (www.youtube.com/watch?v=Xw_TD79kaf8)
Como em muitos países o aborto provocado é permitido, cerca de
40% das mulheres do mundo têm acesso legal a ele. Sob estas condições a decisão
por abortar fica nas mãos da gestante, ocasionada muitas vezes pela pressão do
parceiro e (ou) terceiros. Lembramos, no entanto que nem tudo o que é legal é
também moral e precisamos considerar o código de ética de Jesus através da
proposta “Não façais aos outros o que não quereríeis que os outros vos façais”
para que nossas decisões sejam mais adequadas a nós mesmos.
Através da reencarnação nos encontraremos forçosamente com o
resultado de nossas escolhas, resultados estes que podem gerar muitas dores.
Imaginemos a dor da mulher que deseja ardentemente ser mão e não pode; dos
muitos processos obsessivos que nascem por ocasião de abortos; da mão que dá à
luz a uma criança que lhe é antipática aparentemente por nada, mas que nada
mais é que o Espírito anteriormente abortado que não superou a mágoa do
passado; dos terríveis complexos de culpa gerando dores incalculáveis.
Imaginemos ainda as trágicas situações dos(as) abortistas no mundo espiritual
lembrando, por comparação, o caso mencionado no livro “Nosso Lar” no capítulo 31
intitulado “VAMPIRO” que aponta um caso em que a mulher desventurada chega as
portas da colônia e não pode ser atendida.
Mesmo tendo mencionado no início que faria uma reflexão espírita
sobre o aborto, deixo como conclusão a fala do Dr. Nathanson médico de ciência
e católico por religião...
“(...) o feto é um ser humano, igual a qualquer um de nós e
parte integral da comunidade humana. Agora, a destruição da vida humana não é
solução para o que basicamente é um problema social. E acredito que recorrer a
essa violência é admitir que a ciência, e pior ainda, a ética estão
empobrecendo. Eu me recuso a acreditar que a humanidade, que chegou até a lua,
não possa criar uma solução melhor que recorrer à violência.
Devemos todos nós, aqui e agora, dedicar todos os nossos
esforços para achar uma melhor solução, uma solução composta de amor e
compaixão, e um decente respeito pela inegável prioridade da vida humana. Vamos
todos, pelo bem da humanidade, aqui e agora, parar este genocídio.”
P.S: No texto sugerimos assistir ao vídeo “O Grito Silencioso”,
mas não posso deixar de mencionar que há cenas muito fortes e que me comoveram
até as lágrimas.
REFERÊNCIAS:
WIKIPÉDIA, A enciclopédia livre. Casamento Religioso. Disponível
em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Casamento_religioso>.
São Bernardo do Campo, São Paulo, Brasil. Acessado em 15 de Fevereiro de 2013.
ALPHA E ÔMEGA, Comunidade Católica. Doutrina da igreja católica
sobre o aborto. Disponível em < http://www.alphaeomega.org.br/comunidade/formacoes.php?ler_id=434>.
São Bernardo do Campo, São Paulo, Brasil. Acessado em 15 de Fevereiro de 2013.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50. ed. LAKE (Tradução da
2ª edição original do francês por José H. Pires)
LUIZ, André. (Médiun: Francisco Candido Xavier) Nosso Lar. 45.
ed. FEB. 1944.
VARELLA, Drauzio. Disponível em http://drauziovarella.com.br/mulher-2/gravidez/a-questao-do-aborto/.
São Bernardo do Campo, São Paulo, Brasil. Acessado em 15 de Fevereiro de 2013.
NATHANSON, Bernard N. O Grito Silencioso. Disponível em < http://www.youtube.com/watch?v=Xw_TD79kaf8>São
Bernardo do Campo, São Paulo, Brasil. Acessado em 15 de Fevereiro de 2013.
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